segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vila Isabel e a profusão de celebridades

Foi-se o tempo em que o mundo do samba era restrito aos moradores das comunidades, aos que vivem o cotidiano das escolas, aos que batalham, diariamente, para a glorificação do ritmo mais caracteristicamente brasileiro. A febre de rostos conhecidos já tinha invadido outros redutos menos tradicionais das escolas de samba, mas a grande surpresa, em 2011, é que ela chegou, com toda a força, à Vila Isabel, que se autointitula(va) celeiro de bambas.

Em Vila Isabel, como já dizia seu mais alto expoente, ninguém vacila ao abraçar o samba. E eu não duvido disso. A azul e branco sempre foi conhecida por fazer desfiles cheios de garra e raça, mas com poucos recursos; produzir verdadeiras odes à cultura negra e à classe trabalhadora.

No entanto, nos preparativos para o carnaval deste ano, a escola deixou de lado as suas tradições e resolveu aderir de vez a um modelo que incomoda muita gente que aprecia a "simplicidade" e respeita os verdadeiros sambistas: encher a quadra de rostos conhecidos. A fauna que a Vila trará para a avenida possui desde modelos de carreira internacional bem-sucedida até pseudocelebridades que tentam se agarrar com afinco aos últimos minutos de fama.

Então, quais seriam as vantagens em se adotar esta estratégia? Ao que parece, muitas. Primeiro de tudo, um patrocínio gordo que possibilita elaborar um carnaval com materiais de melhor qualidade, o que é o sonho de todo carnavalesco. Depois, uma "badalação", com presença certa inclusive em programas de fofoca, que ajuda a criar uma expectativa maior sobre a escola, e, quem sabe, uma pressão maior sobre os jurados para que a escola seja bem avaliada, vide o modelo adotado por outra escola, conhecida por ser "dos artistas".

Mas a Vila "versão 2011" não é só um rostinho bonito. Conta com uma carnavalesca de primeira linha, que sabe desenvolver enredos como ninguém; um samba que promete funcionar e animar a Sapucaí; e o know-how de estar disputando o título nos últimos anos.

Tudo isso ajuda a pôr a escola do bairro de Noel no seleto grupo das favoritas ao título, ao lado de Tijuca e Salgueiro. Vamos ver se o Carnaval das Celebridades sairá vencedor na Passarela dos Bambas.




domingo, 27 de fevereiro de 2011

Quem tem medo da Tijuca?

Suspense, expectativa, ansiedade, mistério. Medo!? Durante todo o ano, estes sentimentos permearam os corações e os pensamentos de todos os amantes do carnaval carioca. Desde que o segredo da Unidos da Tijuca para uma vitória arrasadora foi revelado, aguardamos para conferir se ela vai ser capaz de se reinventar ou se repetirá a fórmula do sucesso.

Em 2004, uma mente brilhante emergiu para causar reviravolta no carnaval e depertar amor ou ódio nos sambistas, jamais indiferença. Paulo Barros já está entre os maiores nomes no Olimpo da Festa de Momo. Ele revolucionou ao introduzir, maciçamente, alas coreografadas, além de carros intensamente povoados, onde foliões executam performances organizadas, previamente estabelecidas.

Além disso, não se ateve à forma tradicional de fazer enredo: contar uma história ou um fato histórico cronologicamente, ou então a biografia de algum personagem importante. Barros encontrou na Unidos da Tijuca um ambiente propício para o desenvolvimento de enredos-tema, jogando uma ideia principal e, a partir daí, construindo mosaicos com seus vários vieses.

Há quem torça o nariz para tais inovações, alegando que desvirtua o espetáculo, que descaracteriza o desfile ao coibir a liberdade do componente. Há até quem diga que aquilo não é samba! Mas o fato é que a crítica especializada se rendeu a Paulo Barros, entregando-lhe 3 Estandartes de Ouro!

Além do brilhante carnavalesco, a escola do Borel conta com uma direção extremamente competente, que investe nas ideias, para muitos, mirabolantes do mago; e ainda uma das comunidades que mais tem cantado seus sambas quando passa pela Sapucaí.

O que a Tijuca vai aprontar em 2011? Quem tem medo da Tijuca? Aqui vai um conselho: todas as escolas deveriam ter, pois aqui está a grande favorita ao campeonato. As outras que se cuidem!

Portela tenta recuperar a altivez no azul do mar

Lá se vão 27 anos sem título e a maior campeã do carnaval segue seu calvário para somar mais um ano nesta conta. A azul e branco de Madureira não terá a chance de quebrar o jejum devido, para alguns, à vontade dos deuses do carnaval; para mim, à incompetência dos homens. O incêndio ocorrido na Cidade do Samba era perfeitamente evitável.

A Portela conta com um enredo no qual pode usar e abusar dos tons azul e branco, tão caros à escola e à sua gente. Um samba, que se não é uma obra-prima digna dos tempos áureos, é bastante funcional e adequado à proposta de enredo. Um carnavalesco experiente que pode inserir na agremiação um novo estilo, com um carnaval mais grandioso e impactante. Porém, infelizmente, todo este trabalho não será posto à prova.

Em 2008 e 2009, a Portela surpreendeu ao fazer desfiles além do que era esperado e chegou a vislumbrar a possibilidade do campeonato diante de si. Já em 2010, uma sucessão de erros, a começar pela escolha do carnavalesco, ajudou a compor uma desastrosa apresentação que foi poupada pelos jurados, agraciada com um imerecido nono lugar.

A expectativa estava em saber qual Portela viria em 2011: a esplendorosa de 2008 e 2009 ou a "sem noção" de 2010?

Já que disputa de campeonato não há mais, resta aos portelenses, e isto não é pouco, reencontrar o significado do que é representar uma das maiores instituições populares do país e colocar a embarcação na rota adequada para o carnaval 2012.

A Medicina terá o remédio para a Imperatriz?

Um samba-enredo dos melhores do ano e favorito ao estandarte de ouro, como tem sido marca da Imperatriz nos últimos carnavais. Um enredo direto, de fácil assimilação, bem elaborado, seguindo a linha da História cronologicamente, de forma reta, sem regressões ou digressões.

É desta forma que a escola do carnavalesco Max Lopes vem para a avenida com a esperança de que os "males" das últimas apresentações sejam extirpados e ela possa, ao menos, voltar no sábado para prolongar seu carnaval. O problema é o horário do desfile: ser a segunda a desfilar é quase sempre largar atrás. Mas nada que um bom desfile não possa atenuar.

Há 10 anos sem conquistar o título, quando foi tricampeã, a escola de Ramos parece estar longe do primeiro posto novamente. Anteriormente conhecida como "tecnicamente perfeita", a escola foi superada pelas coirmãs, que seguiram seu exemplo e passaram a fazer desfiles mais compactos e organizados(não frios, como alguns costumavam dizer).

Nesta década de seca, contou com a produção de dois carnavalescos do primeiro time, tradicionais, Rosa Magalhães e Max Lopes; apresentou sambas magníficos, mas pecou em evolução e harmonia. A Imperatriz precisa cantar mais! Precisa se sentir grande, já que ela é, ao lado da Beija-Flor, a maior campeã do sambódromo com seis conquistas.

Nos ensaios técnicos, principalmente o último, os componentes deram mostras de que vão pisar forte na avenida; tudo com o auxílio de uma bateria impecável. A Medicina somente não basta para a cura. A adesão dos pacientes(componentes) ao "tratamento" é fundamental.

São Clemente canta o Rio e sua Natureza

Pode-se argumentar: mas de novo o Rio? Estas escolas não têm criatividade? Como são repetitivas!

Mas o fato é que a Cidade Maravilhosa tem milhares de facetas e tem uma história de mais de 400 anos extremamente rica e cheia de profundas mudanças. Inclusive físicas. E são estas transformações que alteraram a imagem do Rio ao longo do tempo que serão cantadas pela São Clemente em 2011.

Para a escola da Zona Sul, o Criador delegou a São Sebastião e a São Clemente a missão de construir algo único, singular e defendê-lo de mentes gananciosas e destruidoras. O enredo passa pelas mudanças provocadas com a finalidade de aclimatar a Corte Portuguesa e aquelas introduzidas mais tarde pelo prefeito Pereira Passos. A agremiação não esquece de mencionar o outro lado da moeda: foi a partir desta política de urbanização que se iniciou o processo de ocupação desordenada dos morros.

O espírito carioca e a jovialidade de seus habitantes não são deixados de lado, ajudando a compor o mosaico em que a escola aposta para esquentar o público, já que será a primeira a desfilar.

A São Clemente foi "beneficiada" com o incêndio ocorrido em barracões de algumas escolas, pois era dado como certo o seu rebaixamento no pré-carnaval. Parece que o Criador incumbiu a São Clemente mais uma missão cinco séculos depois...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Império Serrano deve buscar no passado de glórias o caminho para brilhar no presente

Uma escola de samba que teve nos seus quadros compositores do quilate de Silas de Oliveira e Dona Ivone Lara. Que tem nos seus anais desfiles memoráveis como o de 1982. Uma escola que deu à cultura nacional relíquias como "Aquarela Brasileira" e "Heróis da Liberdade".

Tudo isso é uma parte ínfima da vasta história contida em uma instituição saída da Serrinha, mas que hoje pertence um pouco a cada brasileiro que se sente identificado com os ideais de liberdade e democracia, e mais ainda àqueles que se emocionam ao ver o jongo e ao ouvir os agogôs.

No entanto, o Império Serrano parece não ter ideia ou não se dar conta da sua relevância para o samba, para o carnaval, para o Rio de Janeiro. Nos últimos anos a escola não tem obtido os resultados que toda a sua grandeza, justamente, requer.

Apesar de vir sofrendo uma certa resistência por parte dos jurados - vide o belíssimo desfile de 2009, recontando Lenda das Sereias, que apresentou uma nova linguagem estética, indo de encontro à era do carnaval gigantesco e cinematográfico - há que se fazer uma autocrítica e apontar o que tem atrapalhado.

O Império continua sendo exemplo nos quesitos mais tradicionais do samba, que são a bateria e o samba-enredo, contando com uma ala de compositores que aparenta ser uma fonte inesgotável de melodias e amor à língua portuguesa. Então, onde está o problema? Alegorias e adereços, bem como fantasias, são quesitos que adquiriram novos e altos padrões de exigência, e é onde o Império vem pecando.

Sempre houve um receio da tradicional escola de Madureira, e digo até uma ojeriza, com a palavra modernização. Mas a Serrinha nunca perderá a sua essência, trazida desde o sonho de Molequinho e Dona Eulália e que atravessou 64 anos permanecendo no imaginário popular como sinônimo de bom samba, de tradição, de brasilidade.

Em 2011 os imperianos desfilam novamente no Grupo de Acesso, mas o Grupo Especial se ressente e é menos abrilhantado com a ausência da verde e branco. Espero que o grande samba e a força dos desfilantes despertem a gigante da longa hibernação.

Mais do que títulos, o Império precisa se enxergar no espelho...

A expectativa que antecede o desfile das escolas de samba do Rio: quem será a grande campeã? - O Globo Online

A expectativa que antecede o desfile das escolas de samba do Rio: quem será a grande campeã? - O Globo Online


A educação como processo - O Globo

A educação como processo - O Globo

A expectativa que antecede o desfile das escolas de samba do Rio: quem será a grande campeã?

Mais um (longo) ano se passou e eis que estamos às vésperas da maior alegria do brasileiro e razão de viver para muitos: o carnaval. Vamos de novo sentir a emoção e a batida dos batuques, tamborins, tambores, agogôs e afins. Iremos nos surpreender com as inovações e encher os olhos com o espetáculo de cores e formas apresentado na Sapucaí.

Ao contrário do que dizem as más línguas, na Marquês, tudo se renova e é isso que faz os desfiles das escolas de samba cariocas ser sucesso de público e crítica há mais de 70 anos. Apesar da imensa tristeza que assolou o mundo do samba há pouco tempo, com o incêndio nos barracões de três escolas, a vida segue, e estas, com auxílio e garra de suas respectivas comunidades e as ditas coirmãs, poderão passar pela avenida com dignidade.

A Grande Rio, favorita no período pré-carnavalesco, foi alijada da disputa por forças externas, infelizmente. A tradicionalíssima (e põe -íssima nisso) Portela não vai ter o brilho de desfilar com o gostinho de estar disputando o título. E a sempre cheia de alegria União da Ilha, após a felicidade de continuar no Grupo Especial, foi privada de pisar na passarela "para valer".

Resta a lição - e aqui vai um recado para prefeitura, administradores e técnicos da Cidade do Samba - que deve ser aprendida para o próximo período carnavalesco: vistoria constante e aparato anti-incêndio. Coisa elementar. Do contrário, o episódio pode se repetir, com 25% das escolas sem poder receber notas, sendo uma delas simplesmente a maior campeã do carnaval.

Dentre as que continuam na disputa, três se sobressaem: Unidos da Tijuca (a atual campeã), Vila Isabel e Salgueiro. Sinto que, neste momento, mangueirenses e nilopolitanos torcem o nariz (risos). Explico-me: não por acaso, estas três escolas foram capazes de vencer a campeoníssima Beija-Flor da primeira década do século XXI. Pode parecer clichê, mas estes resultados são fruto da organização, representada pelo investimento nas quadras, para receber mais gente nos ensaios e assim aumentar as receitas, da maior presença da comunidade nos desfiles e, claro, da criatividade do seu staff.

Por que a Tijuca (e agora me refiro ao bairro) está podendo neste carnaval, com as três favoritas saídas de suas ruas? A escola que tem a honra de carregar o seu nome vem com um tipo de enredo que tem se tornado sua marca nos últimos anos, algo entre o estilo hollywoodiano e o circense, que alçou a escola ao panteão das grandes do samba. Todos aguardam quais as novidades estonteantes, paralisantes e inebriantes que Paulo Barros vai tirar da cartola para nos presentear. Teremos de novo um desfile avassalador como o de 2010?

Andando um pouco pelo famoso bairro da Zona Norte, encontramos o Salgueiro do outrora (?) high-tech Renato Lage, que soube se adequar ao estilo mais barroco e afro do Salgueiro para tirar a escola do ostracismo e dar a ela mais um título. No ano passado, a vermelho e branco viveu a ressaca do término do jejum, mas em 2011 vem cantando mais uma vez o Rio de Janeiro, como só ela sabe fazer, mostrando uma outra faceta da Cidade Maravilhosa: sua presença no cinema.

Já a escola do bairro de Noel Rosa conta com abundância de dinheiro, celebridades do mais alto quilate e uma badalação poucas vezes vista no pré-carnaval. Mas só isso não bastaria. A Vila Isabel tem a multicampeã Rosa Magalhães e um bom samba que podem levá-la ao terceiro título.

Já a Mangueira e a Beija-Flor podem, sim, sempre contar com um dia inspirado de suas comunidades para arrancarem o título das mãos das favoritas, porém é pouco provável que isso aconteça em 2011. A verde e rosa ainda está no processo de reconstrução após algumas administrações, no mínimo, desastrosas que levaram ao acúmulo de dívidas e relações suspeitas com traficantes. É louvável a escolha do enredo que homenageará o baluarte Nelson Cavaquinho e mexerá com os corações de todos os mangueirenses. E quando a Mangueira vem falando de personalidades da música...vide 1984, 1986 e 1998, só para ficar na "era sambódromo".

A Beija-Flor parece ter perdido o fôlego nos dois últimos anos e a escolha do samba-enredo para 2011 foi um tanto quanto infeliz; no entanto, o forte apelo popular de seu enredo pode compensar o samba.

Mocidade e Imperatriz precisam se reformular para reviver as inesquecíveis disputas dos anos 90. Por ora, parecem estar fadadas ao papel de coadjuvantes. Já Porto da Pedra e São Clemente, com a ausência do rebaixamento, devem apenas figurar.

Quero opiniões dissonantes... Quem levará o Estandarte de Ouro? Quem encherá nossos olhos e fará nossos corações baterem no ritmo da bateria? Falta pouco...