"Meu coração vai disparar, sair pela boca..." Esse é um trecho do samba mais cantado na e pela Sapucaí no carnaval de 2010. A Mocidade Independente de Padre Miguel conseguiu a proeza, que tem se tornado cada vez mais difícil, de quebrar o gelo da avenida e fazer com que o público, ano após ano mais frio, acompanhasse seu mote a plenos pulmões.
No entanto, o samba não era, digamos, notabilizado por sua beleza poética. Era, sim, preenchido por expressões e clichês facilmente assimiláveis. Se por um lado, este artifício ganha a arquibancada, por outro, pode provocar a queda do nível do espetáculo.
Eis que para 2011, a escola da zona oeste traz na sua música uma referência clara ao refrão tão recitado. Seria um recurso interessante ou apenas uma tentativa melancólica, e desprovida de criatividade e ousadia, de prolongar, ao máximo, o efeito do samba anterior?
Quanto aos quesitos plásticos, a Mocidade vai muito bem, obrigado. Cid Carvalho, após dirigir os dois melhores carnavais na escola nos últimos oito anos, em 2008 e 2010, continua como carnavalesco e conseguiu emplacar o enredo que queria com um patrocínio polpudo, coisa rara atualmente, quando se opta ou por um ou por outro.
Os desfiles de 2008 e 2010 caracterizam-se por marcarem estilos diferentes: o primeiro é clássico, com um enredo histórico, samba maravilhoso, letra e melodia bem construídas, comissão de frente originalíssima e vencedora de prêmios; o segundo adotou um humor leve, um tanto quanto escrachado, e que ampliou o leque de possibilidades e alternativas para a mente do carnavalesco. Se pudesse escolher apenas um deles, ficaria com o de 2008.
A Mocidade tem, sim, o direito de tentar "popularizar" seu carnaval, mas sempre tendo em vista a manutenção da qualidade, para que não se torne uma "vulgarização". Isso vale para todas as escolas.
No mais, a verde e branco está pronta para lutar com afinco por um lugar entre as seis melhores. Boa Sorte, Padre Miguel!
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